Psicóloga explica por que a autocrítica severa só reforça o ciclo da compulsão alimentar e orienta como iniciar um diálogo interno mais acolhedor
Em um cenário onde a relação com a comida muitas vezes se entrelaça com as emoções, a psicóloga Viviane Nascimento, especialista em comportamento alimentar, lança luz sobre um aspecto crucial da compulsão alimentar: a autocrítica severa. Longe de ser um fator motivador, o diálogo interno punitivo após episódios de comer emocional não apenas reforça o ciclo vicioso, mas também impede a construção de uma relação mais saudável e compassiva com a alimentação e consigo mesmo.
Viviane explica que a autocrítica, embora muitas vezes vista como uma forma de controle, na verdade gera mais ansiedade e culpa. Esses sentimentos são gatilhos comuns para o comer emocional, criando um ciclo difícil de quebrar. A culpa e a vergonha, em vez de motivar a mudança, acabam por aprisionar o indivíduo em um comportamento repetitivo e prejudicial.
“Quando nos culpamos e nos recriminamos por ter comido em excesso, entramos em um ciclo de vergonha que nos afasta da solução e nos prende ainda mais na compulsão”, afirma Viviane. A especialista ressalta que essa voz interna crítica impede a identificação das reais necessidades emocionais que levam ao comer, mascarando a dor e a frustração subjacentes. É um mecanismo de defesa que, paradoxalmente, impede a cura.
Para romper esse padrão destrutivo, a psicóloga orienta a iniciar um diálogo interno mais acolhedor e compassivo. Isso não significa ignorar os desafios ou as dificuldades, mas sim abordá-los com gentileza e compreensão. A autocompaixão é a base para qualquer mudança duradoura, permitindo que o indivíduo se veja com mais clareza e menos julgamento.
“A compaixão consigo mesmo é a chave para a mudança. Ao invés de se perguntar ‘Por que eu fiz isso de novo?’, tente ‘O que eu estou sentindo agora? O que eu preciso de verdade?'”, sugere a especialista. Ao tratar-se com a mesma gentileza que se trataria um amigo, é possível desarmar a culpa e a vergonha, abrindo espaço para a cura e para a construção de novos hábitos. A jornada para uma relação saudável com a comida é um processo contínuo de aprendizado e autodescoberta, e a autocompaixão é o combustível que impulsiona essa transformação.
Além disso, Viviane enfatiza que a mudança de perspectiva sobre o comer emocional envolve reconhecer que a comida é apenas um sintoma, e não a causa do problema. Abordar as raízes emocionais, como estresse, ansiedade, tédio ou tristeza, é crucial para desvincular a alimentação desses estados.
Fonte: Viviane Nascimento — Psicóloga clínica | Especialista em comportamento alimentar, com foco em comer emocional e compulsão alimentar @psi.vivianenascimento